
Depois que Kenneth Branagh dirigiu e interpretou o clássico detetive Hercule Poirot, em ‘Assassinato no Expresso do Oriente’, cinco anos atrás, era questão de tempo para ele aparecer de novo. Esse tempo ou, e o Poirot de Branagh está de volta à telona, desta vez em ‘Morte no Nilo’, que estreia hoje em Curitiba.
Poirot foi um dos dois detetives criados pela escritora britânica Agatha Christie – o outro é Miss Marple. Poirot é belga, excêntrico e vaidoso, mas consegue resolver assassinatos. A comparação com outro famoso detetive da literatura, Sherlock Holmes, de Arthur Conan Doyle, é inevitável. A diferença recai sobre a estrutura das histórias. Holmes resolve os crimes junto ao parceiro inseparável, Watson, e a linha narrativa foca nos dois e no caminho para resolver o mistério. No caso das histórias de Poirot, Agatha Christie sempre acha espaços para colocar um militar, um indiano, uma aristocrata e, principalmente, uma crítica nem sempre sutil à sociedade britânica.
‘Morte no Nilo’ não foge a isso. Além do casamento de interesses que movimenta a história, há criticas à luta de classes trabalhadoras, ao uso extravagante de dinheiro e aos relacionamentos entre diferentes classes sociais. A trama se a no ano de 1937. Durante um cruzeiro em um barco de luxo pelo rio Nilo, no Egito, uma rica mulher é morta. Coincidência ou não, quase todos os ageiros têm motivos para matá-la. Caberá ao detetive Poirot descobrir a verdade. Logicamente, ele interroga todos — em dado momento, coloca a culpa em cada um dos interrogados — até chegar à conclusão final.
Em sua adaptação do livro de Agatha Christie, Branagh opta por limar alguns personagens — caso do coronel Race — e trocar nomes de outros — Andrew Pennington, o de finanças no livro, vira Andrew Katchadourian. Além disso, há mudanças na essência de outros personagens. Na obra original, Salome Otterbourne é uma escritora de romances eróticos e tem uma filha, Rosalie. No filme de 2022, Salomé é uma cantora de blues, norte-americana e negra — o que, nos anos 1930, significa ser vítima de racismo — e Rosalie é sua sobrinha (e também vítima de racismo). além disso, a relação da ricaça Marie Van Schuyler com sua criada, Bowers, vai além do que se imagina a princípio. A atualização de uma trama de 1937 com temas mais contemporâneos é uma das virtudes desse filme.
Quanto à parte militar, Branagh insere uma breve história de origem de Poirot. Em 1914, ainda jovem, o belga era um soldado nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial. E já demonstrava poderes de observação e dedução acima da média — graças aos quais seu pelotão obteve uma pequena vitória em uma batalha campal. Além disso, o episódio serviu de justificativa para o bigode extravagante de Poirot.
‘Morte no Nilo’ já foi adaptado outras vezes. A versão mais lembrada é o de 1978, com nomes como Peter Ustinov, Bette Davis, Angela Lansbury, Maggie Smith e David Niven, todos vencedores de Oscars, além de Mia Farrow e Jon Finch, entre outros. Se há um pecado no filme atual, é não contar com um elenco tão recheado de estrelas quanto o longa de 1978. Desta vez, além de Branagh, os nomes mais conhecidos são os de Gal Gadot (‘Mulher-Maravilha’), Annette Bening (‘Bugsy’ e ‘Beleza Americana’) e Letitia Wright (‘Pantera-Negra’) – em menor escala, Armie Hammer (‘O Agente de UNCLE’) e Jennifer Saunders (cantora e dubladora da fada má de ‘Shrek 2’). Até mesmo ‘Assassinato no Expresso do Oriente’, de 2017, tinha um elenco mais estrelado, com Michelle Pfeiffer, Johnny Depp, Daisy Ridley, Penélope Cruz, Olivia Colma, Derek Jacobi e Willem Defoe.
Nada indica que Branagh vá parar por aí. Hercule Poirot apareceu em 39 livros de Agatha Christie – além de dois outros, escritos por Sophie Hannah, com a bênção da família da autora. Não falta material para trazer à telona. E não falta energia a Branagh, que daqui a duas semanas vai lançar outro filme, ‘Belfast’, dono de sete indicações ao Oscar (inclusive três para ele mesmo).
Rápida
Adiamentos
Como muitos filmes produzidos nos últimos anos, ‘Morte no Nilo’ também sofreu com a pandemia da Covid-19. As filmagens foram executadas entre setembro e dezembro de 2019, no Longcross Studios, em Surrey (Inglaterra), e no Egito. A pandemia interrompeu o processo de pós-produção em fevereiro de 2020. Por causa da pandemia, o filme seria lançado em março de 2021. Seria, porque na época o ator Armie Hammer foi acusado de canibalismo e também foi investigado por estupro pela polícia de Los Angeles. A Disney, produtora do filme, optou por segurar o filme por mais um ano, até que a poeira baixasse.
Os envolvidos
Salome Otterbourne
(Sophie Okonedo)
A cantora
Rosalie Otterbourne
(Letitia Wright)
A ex-amiga da ricaça
Linus Windlesham
(Russell Brand)
Ex-noivo da ricaça
Andrew Katchadourian
(Ali Fazal)
Primo e contador da ricaça
Marie Van Schuyler
(Jennifer Saunders)
A aristocrata norte-americana
Bowers
(Dawn French)
Criada de Van Schuyler
Bouc
(Tom Bateman)
O amigo de Poirot
Linnet Ridgeway
(Gal Gadot)
A ricaça
Simon Doyle
(Armie Hammer)
Casou com a ricaça
Jacqueline de Bellefort
(Emma Mackey)
A ex-noiva abandonada
Euphemia Bouc
(Annette Bening)
A mãe aristocrata de Bouc
Louise Bourget
(Rose Leslie)
A criada