Hoje, 04 de janeiro, Dia Mundial do Braille, data criada em 2018 pela Organização das Nações Unidas,
apresento algumas curiosidades sobre Louis Braille e sua invenção e sobre como o
Sistema Braille chegou em terras brasileiras*.
SOBRE LOUIS BRAILLE E SUA INVENÇÃO
- Em 4 de janeiro de 1809, nasceu em Coupvray, a 40 quilômetros de Paris, Louis
Braille. - Em 1812, em um acidente na oficina de seleiro de seu pai, Louis Braille feriu um dos
olhos com uma ferramenta, perdendo em seguida a visão nos dois olhos depois de um
curto processo infeccioso. - Em 15 de fevereiro de 1819, aos 10 anos de idade, Louis Braille ingressou no Instituto
dos Jovens Cegos de Paris, primeira escola para pessoas cegas do mundo, fundada em
1784 pelo francês Valentin Haüy (1745-1822). - Em 1821, o ex-capitão do exército francês Charles-Marie Barbier de la Serre (1767-
1841) apresentou à direção do Instituto a sua “Escrita Noturna”, com pontos e traços
em relevo, criada para rápidas comunicações entre soldados à noite. - Em 1825, aos 16 anos de idade, após intensos estudos inspirados na invenção de
Barbier, Louis Braille apresentou à direção do Instituto a primeira versão de seu
“processo” de leitura e escrita, ainda com pontos e traços em relevo formando um
total de 96 sinais. - Com o mesmo título da versão anterior, de 1829, foi editada, por Louis Braille, em
1837, a versão final de “Processo para escrever as Palavras, a Música e o Cantochão,
por meio de Pontos, para Uso dos Cegos, e dispostos para Eles”: 63 sinais formados a
partir de uma matriz de seis pontos em relevo, com as letras do alfabeto, os sinais de
pontuação, os sinais matemáticos, uma codificação estenográfica e uma notação
musical. - A obra foi enviada para diversas instituições para pessoas cegas do mundo, com a
transcrição para o braille do Pai Nosso em seis línguas: latim, francês, italiano,
espanhol, inglês e alemão. - Em 6 de janeiro de 1852, aos 43 anos de idade, Louis Braille faleceu em Paris, sendo
enterrado em 10 de janeiro, em Coupvray. - Após dois anos da morte de seu inventor, em 1854 o braille foi oficializado na França
e considerado obrigatório para o ensino das pessoas cegas. - Ocorreu, em Paris, entre 23 e 30 de setembro de 1878, o Congresso Internacional
para a Melhoria da Situação dos Cegos e dos Surdos-Mudos, com representantes de
diversos países. Após analisarem os diferentes métodos de ensino para pessoas cegas,
uma comissão de especialistas concluiu ser o processo de Louis Braille o mais
adequado, por atender tanto à leitura como à escrita (surgiu, então, a denominação
Sistema Braille). - Em 1892, o superintendente da Escola para Cegos de Illinois, Frank H. Hall, inventou a
primeira máquina de escrever em braille com o formato similar ao da máquina de
datilografia comum.
O SISTEMA BRAILLE NO BRASIL
- Em 8 de abril de 1835, nasceu, na cidade do Rio de Janeiro, José Álvares de Azevedo,
cego desde muito pequeno por causa de uma oftalmia purulenta de recém-nascido. - Em 1º de agosto de 1844, José Álvares de Azevedo, aos 9 anos de idade, foi estudar
no Instituto dos Meninos Cegos de Paris, onde provavelmente conheceu Louis Braille e
foi seu aluno. - Após seis anos na Europa, o jovem Álvares de Azevedo retornou ao Brasil em 14 de
dezembro de 1850, trazendo na bagagem uma coleção de livros impressos e
manuscritos em braille, pranchas e grades para escrita e outros materiais. - Instalado na Praia de Botafogo, Álvares de Azevedo ou a ensinar o sistema braille
para Adèle Marie Louise Sigaud, jovem cega desde os 15 anos de idade, filha do Dr.
José Francisco Xavier Sigaud (1796-1856), médico da Corte Imperial. - Por intermédio do Dr. Xavier Sigaud e do Barão do Rio Bonito, o jovem Álvares de
Azevedo conseguiu uma reunião com o Imperador D. Pedro II, na qual demonstrou a
escrita e a leitura em braille e apresentou a sua ideia de criar uma escola para cegos no
Brasil, semelhante ao instituto francês. - Em 1851, Álvares de Azevedo dedicou ao Imperador a tradução que fez do livro “O
Instituto dos Meninos Cegos de Paris: sua história, e seu método de ensino”, de Joseph
Guadet, trazendo no prefácio a frase de D. Pedro II que teria ouvido durante o
encontro e que entraria para a história: ”A cegueira já quase não é uma desgraça”. - José Álvares de Azevedo terminou seu prefácio reafirmando sua expectativa pela
criação de uma instituição para pessoas cegas no Brasil. Infelizmente, após ter exercido
papel determinante e decisivo para concretizar o seu sonho, o jovem faleceu em 17 de
março de 1854, pouco tempo antes da fundação do Imperial Instituto dos Meninos
Cegos (atual Instituto Benjamin Constant), em 17 de setembro. - O regulamento estabelecia que seria adotado o método de “pontos salientes” de
Louis Braille, sendo utilizado no início os materiais doados pelo pai de Álvares de
Azevedo (livros, mapas, dispositivos de escrita) e outros importados para o
funcionamento da instituição. - Em 1854, o Instituto de Paris editou o primeiro livro em braille em língua estrangeira:
“Método de Leitura em Português”. Os custos, inclusive da fundição dos tipos
metálicos usados, foram pagos com recursos pessoais de D. Pedro II. - A Oficina Tipográfica da instituição, origem da Imprensa Braille, foi inaugurada em 14
de agosto de 1857, com cinco aprendizes cegos e um mestre em composição e
impressão, além de materiais específicos para a impressão em relevo. As primeiras
obras publicadas nessa oficina foram “História Cronológica do Imperial Instituto dos
Meninos Cegos”, de Claudio Luiz da Costa, feita em 1863, e “Constituição Política do
Império do Brasil”, feita em 1865.
* Informações retiradas do meu livro “Histórias e Memórias do Instituto Paranaense
de Cegos”.