Nada sobre nós, sem nós – esse é o lema dos movimentos sociais das pessoas com deficiência, surgido em 1986, na África do Sul, no contexto do apartheid. Um lema que valoriza o protagonismo das pessoas com deficiência, grupo historicamente marginalizado e silenciado e que, atualmente, ainda enfrenta a invisibilidade e a desumanização.

Quando falamos de protagonismo, estamos falando também de uma questão muito complexa relacionada a esse lema: a representatividade. Complexa porque, afinal, não basta ter deficiência para ter atitudes e práticas de fato emancipatórias, atitudes e práticas que promovam as mudanças necessárias para uma sociedade mais inclusiva e menos capacitista.

Contudo, se por um lado temos o compromisso de problematizar a questão da representatividade, por outro lado temos que deixar claro que esse lema não trata de exclusividade. Isso significa que dentro ou fora dos movimentos sociais – nos espaços de luta e na vida diária – precisamos das atitudes e práticas emancipatórias das pessoas sem deficiência.

Ainda hoje, proporcionalmente, as pessoas com deficiência têm muito menos o à educação e ao trabalho do que as pessoas sem deficiência. Ainda hoje, milhares de pessoas com deficiência vivem trancadas em casa ou institucionalizadas – nem imaginamos quantas – em locais com precárias condições, sofrendo muitas vezes violência física e psicológica. Enfim, ainda hoje, milhares de pessoas com deficiência são dependentes do assistencialismo e da caridade, sentindo na pele a falta de políticas públicas permanentes, eficientes e transformadoras.

Que essa situação de uma vez por todas gere nas pessoas sem deficiência a mesma indignação que a discriminação sofrida por outros grupos sociais vem gerando cada vez mais – homofobia, racismo e machismo, por exemplo. Que as pessoas sem deficiência reflitam, encarem seus incômodos, constrangimentos e preconceitos e se revoltem contra a falta de ibilidade, contra o estigma da incapacidade, contra a violência que ocorre nos ambientes domésticos e institucionais. E que essa revolta seja revertida em atitudes e práticas que consigam desconstruir as relações hierárquicas, que colaborem para romper as barreiras diversas que impedem o avanço na efetivação dos direitos humanos das pessoas com deficiência.

Aliás, termino minha escrita considerando esse texto muito longo para quem clama por mais ações e menos palavras, para quem deseja um 2025 com mais rampas e menos escadas nas atitudes e práticas de todas as pessoas, com ou sem deficiência.